Bem Ali, duas playlists, rap do Norte, um set de tecnobrega e mais links
Minhas impressões sobre o festival Bem Ali e recomendações diversas
O assunto que dominou o twitter palmense nos últimos dias foi o festival Bem Ali 2023, que aconteceu no sábado, 5. O evento é sempre a oportunidade de vermos os amigos da bolha, botarmos um lookzinho legal e nos sentirmos no Bananada local.
A gente ainda não tem muitas referências de festivais, principalmente organizados pela cena alternativa da cidade. Festival robusto como aqueles que vemos nas maiores cidades, temos o PMW Rock e o Bem Ali.
Enquanto o primeiro consegue trazer artistas “maiores”, o segundo ganha em organização e estrutura. O Bem Ali tem a vantagem de ser um evento mais presente ao longo do ano, apesar de já ter sido mais em anos anteriores.
Ainda assim, o Bem Ali ainda organiza uma seletiva, com o adicional da Blackbird que, apesar de não ser o bar do festival, tem como proprietários membros da produção do evento, criando a sensação de presença constante do Bem Ali. Característica, aliás, que o PMW não instituiu no público.
Não quero criar competição entre os festivais, só estou comparando os eventos para contextualizar e analisar nossa cena. Há espaço tranquilamente para os dois festivais. E cabe mais.
E aqui talvez nós pudéssemos incluir um terceiro festival à lista da cidade: o Greve vs. Boleto. O evento universitário tem estrutura e programação de festival. Atrai milhares de jovens, inclusive, jovens mais alternativos. Este ano, por exemplo, o line-up contou com Kadu Martins e Jeeh FDC, duas atrações incríveis. As músicas deles sempre tocam nas festas que eu frequento.
Porém, se eu coloco o Greve como o terceiro festival da cena, muita gente vai chiar. Esses dois shows são de artistas que de vez em quando figuram nos charts das plataformas de streaming. Porém, não acho que eles sejam completamente mainstream.
Duda Beat, Marina Sena, Pabllo Vittar, Baco: são alternativas ou mainstream?
Esbarramos aí no que é mainstream e no que é alternativo. O que define isso? Até que ponto vale fazer essa comparação? Quais os critérios utilizados ao fazer uma curadoria?
Tem outra palavra que também é bastante utilizada no meio alternativo: “independente”. Festival independente, artista independente. Mas o que seria esse independente? Neste ano o Bem Ali recebeu apoio da Funarte e do Capim Dourado. Ainda é independente?
E isso não é uma provocação ao festival, e sim ao termo, que é utilizado muitas vezes para definir o que é “bom” e o que “não é bom”. O que entra no meu festival, e o que não entra no meu festival.
Confesso que não tenho muitas respostas. Tenho mais perguntas. E talvez seja melhor seguir com mais perguntas mesmo, questionando tudo e analisando os contextos.
Enfim, voltando a falar sobre o Bem Ali. Curti o festival. Me diverti bastante. Estava com os meus amigos, estreei meu look Laços de Família e comi muito.
Isso é surpreendente pra mim, pois sempre vi festivais como espaços para ouvir música e foda-se a “experiência”. O que me levou a sair do Tocantins e “rodar o mundo” atrás de festivais foi a música exclusivamente.
No Bem Ali, como vocês perceberam, eu curti mais a experiência. Justamente porque Palmas, principalmente na cena alternativa, não tem isso. O pessoal da Árvore Seca alcançou um nível notável.
Em relação ao último festival presencial, realizado em 2019, o principal avanço foi na questão da representatividade feminina. Todas as bandas, com exceção de Hellbenders, tinham mulheres. Isso é significativo. Muito festival de alcance nacional que levanta a bandeira da representatividade não faz o que o Bem Ali fez.
Porém, acredito que a curadoria do festival poderia ousar mais e alcançar o nível de excelência que a estrutura alcançou. Eu curti mais a experiência justamente porque os shows não me atraíram tanto. Com exceção da Batalha do Cultural (auge da noite), Móia Cumbia, Boca de Cantora e os Piaba e Far From Alaska (com algumas ressalvas neste último).
Não que as outras atrações sejam ruins. Longe disso. Todas tocam muito bem. A Didia da Big Marias é uma das melhores bateristas que já vi performando ao vivo. Só não é o que eu curto de ouvir hoje. E acho que muita gente se identifica com isso.
Abrindo um parênteses rápido para destacar o meu desejo que o show da Far From Alaska tenha sido uma inspiração para as mulheres da Big Marias. A banda irá evoluir muito com o acréscimo de elementos eletrônicos. Eu já gosto das melodias das músicas delas, mas acho que ainda falta um “tcham”. Far From Alaska pode ser o caminho.
O que teve de diversidade de gênero (ainda bem), faltou em contextualização racial e variedade de ritmos. Diria também que faltou “diversidade de língua”. A maioria das bandas canta em inglês. Não que eu seja contra, mas compor o festival no NORTE DO BRASIL com a maioria das atrações cantando em inglês, me parece fugir completamente da essência de um festival independente BRASILEIRO e TOCANTINENSE.
Percebi claramente que a barreira da língua, além da programação roqueira monótona em determinado momento da noite, impossibilitou uma sintonia maior entre público e bandas.
A diversidade racial se mostrou tão importante no próprio Bem Al! Justamente a melhor atração, a Batalha do Cultural, foi o momento mais diverso nesse sentido. “Melhor” é relativo, né. O que é melhor pra mim, não é melhor pra você. Mas é inegável que o momento de maior interação foi nessa hora (competindo com o show da Boca de Cantora).
Talvez o festival não seja pra ser diverso quando se trata de ritmos. Talvez o objetivo maior seja fomentar o rock. E tá tudo bem, desde que você seja honesto com o seu público: é um festival de rock.
Mas mesmo sendo um festival de rock, é importante promover a “diversidade do rock”. O rock são muitos. Há vários subgêneros dentro desse estilo. Aqui em Palmas mesmo, temos várias bandas de vertentes distintas. Faltou um olhar mais apurado da curadoria para isso.
Entendo também a falta de grana e o custo alto que é realizar um evento musical no Norte do Brasil. Tudo sai caro. Passagens nem se fala. Vi muita gente pedindo nomes como Djonga só porque o Bem Ali ganhou a Funarte.
Calma, galera. O Bem Ali foi premiado com R$75 mil, que é muito pouco. Não precisa ter organizado um evento na vida pra saber que toda aquela estrutura consome essa quantia aí rapidinho. Os organizadores precisaram buscar mais patrocínios, porque sem isso a edição 2023 teria sido bem menor.
O Bem Ali está construindo uma história para se tornar um festival com condições de trazer esses “pikas” da música brasileira. Mas neste ano não dava.
Contudo, como disse minha amiga Cecília, em uma das discussões que tive com ela por áudio de whatsapp no domingo pós-Bem Ali: festival “independente” ou “alternativo” ou só festival precisa também ter curadoria para apresentar artistas novos. Esse é um bom momento para descobertas. O público precisa se abrir para o novo. O Bem Ali não nasceu só pra trazer um Djonga da vida não.
Para terminar, mesmo com todas essas ressalvas, é bom ver um festival ganhando um edital nacional e realizando um evento bacana e organizado. É trampo demais. Que bom termos gente disposta e cheia de energia pra colocar a mão na massa.
Bem Ali se consolidando, PMW ressurgindo, o Tendencies Rock Festival voltando a ter força para o rock independente… Mas acho que cabe mais, hein. Palmas pode ter mais festivais. Acredito que o Toca FM (festival de mulheres) tem tudo pra crescer agora com a retomada dos incentivos culturais. Outras iniciativas na cidade, como Coletivo Flácido, Na Doida, Amo Meu Bloco, o selo Wheels Of Cofunsion Records, a produtora Mundo Invertido, dentre outras, podem nos dar ainda mais eventos.
carai, adorei MC Super Shock
Legal !!!